Meu primeiro voluntariado na Bélgica foi e é no Raiz Mirim, em Bruxelas. Vou explicar, primeiramente, do quê se trata o projeto, de que forma eu os encontrei e como foi o evento: "Oficinas e Partilhas – Encontro formação entre Educadores, formadores, pais e mães de crianças aprendizes de duas ou mais línguas".
O Raiz Mirim nasceu em 2006, mas foi oficializado como associação em 2010. Ele surgiu da preocupação dos educadores para com a promoção e o ensino da língua portuguesa para crianças e adolescentes, com idade entre cinco e treze anos, filhas e filhos de migrantes brasileiros ou de casais mistos na Bélgica. No projeto, além da prática de leitura, escrita e expressão na língua, preocupa-se em propagar o conhecimento da história e da cultura brasileira. As atividades são realizadas nas dependências do Consulado Geral do Brasil em Bruxelas, ás quartas-feiras.
Eu cheguei na Bélgica em novembro de 2013 já sabendo de muitas coisas que poderia/deveria ou não fazer. A Internet hoje deixa tudo mais fácil, nada como o networking e os conselhos de pessoas bem intencionadas para dar aquela alegria à vida. Como vim por meio de Coabitação (essa parte eu vou deixar pros próximos capítulos), já sabia que não teria como trabalhar (“Péra”, não é bem assim! Também vou explicar nos próximos capítulos). Minha meta era de aprender o holandês (neerlandês) nos 6 primeiros meses, mas também queria fazer algo extra pra não ficar, digamos: SURTANDO SEM NECESSIDADE. Queria usar meu tempo não só pra reflexão, mas algo positivo ás outras pessoas. Pra quem trabalhava, estudava, lecionava e sempre via família e amigos, diminuir o ritmo tão bruscamente pode ser perigoso. Sempre quis fazer voluntariado e tinha o interesse de saber como as crianças lidavam com as 3 línguas oficiais aqui na Bélgica, principalmente os filhos de imigrantes, que tinham então mais uma língua extra na sua rotina.
Antes de desembarcar na Bélgica eu acompanhei o blog da Ana Elisa Miranda que conheci pelo Facebook e que recomendo a leitura. Sim, ela é uma dessas pessoas que além de escrever muito bem, tinha assuntos úteis do meu interesse e é super solícita, me ajudou muito, nem sei se ela sabe o quanto. Por meio dela conheci o projeto Raiz Mirim e a Núbia Almeida, com quem ela já se voluntariou. Ela tem um post específico sobre voluntariado que você pode ler.
Nos primeiros meses aqui , eu decidi fazer o Inburgering que é um curso de Integração Social (muita calma que eu demoro, mas eu explico) antes deles me chamarem, pois eu já sabia que isso seria obrigatório para minha estadia e porque mais informação só facilitaria meu processo de adaptação. Assim, o voluntariado de fato começou em consonância com o evento realizado pelo Raiz Mirim.
Eu tive uma pequena experiência com crianças e línguas estrangeiras no Fisk – Escola de Inglês e Espanhol quando fui monitora, em Sinop Mato Grosso. Apesar de ja ter lecionado para adultos na minha área de formação que é Administração, eu nunca tive aulas de didática e meu conhecimento das licenciaturas se restringia em ter uma mãe pedagoga, lido livros sobre o assunto e ter trabalhado numa universidade pública por 9 anos na área administrativa. Ou seja, resumindo, nada.
O encontro foi muito rico. A parceria do Raiz Mirim e da ABRIR foi certeira. Eu nem sequer tinha noção de tantos voluntários e organizações pela Europa que se dedicam a promover a minha língua materna. E muitas pessoas fazem isso de graça, ganhando em troca só sorrisos das crianças, experiência e crescimento pessoal. Vai ser difícil passar tudo em alguas linhas, mas tentarei.
A primeira oficina foi sobre Planejamento de Aulas proferida pela Dra. Ana Beatriz Souza ainda no dia 28 de março.
A segunda oficina foi sobre Seleção e Adaptação de Material proferida pela MA Kenya Silva no dia 29 de março. Sim, o nome dela também é Kenya. Lindo né?
A terceira oficina foi sobre Avaliação de Aprendizado proferida também pela Kênya no dia 29 de março.
A quarta oficina foi sobre Mitos sobre o Bilinguismo proferida pela Dra. Ana Beatriz Souza no dia 29 de março.
A Ana reforçou bem a importância de se estimular a criança com a língua desde cedo e em casa, adaptar o mundo atual dela para o português, fazer conexões entre as duas culturas e não separá-las. A importância de criar situações que liguem a criança às nossas raízes e expô-las ao máximo possível faz parte do Planejamento Linguístico Familiar. Só uma instituição dará conta sozinha sem o estímulo familiar.
Pra mim o evento foi muito importante, pois eu estava começando as atividades e ter ouvido a vivência dessas pessoas me fez compreender a realidade nesse ramo de atividade. Muitas vezes, as coisas são construídas do zero e com muita pouca ajuda. Por mais que o voluntariado em si seja uma ótima experiência, organizá-lo pode ser muito mais produtivo e saber como deixar uma herança durante esse período, ou seja, não só uma ajuda momentânea, mas que possa ser usada mais tarde por outras pessoas que teve a mesma curiosidade que você, é fazer um elo mais forte de uma corrente que não tem fim.
Legal né? Você gostou? Saiba que essas instituições sempre recebem muito bem as ajudas oferecidas, o capital intelectual, aquele que nossa “cachola” pode oferecer é muito importante. Muitas delas tem orçamento limitado ou orçamento nenhum e conferindo no site vocês verão como um grupo de pessoas está levando o português para além das fronteiras.